EDITORIAL - Justiça no caso da Criciúma Construções

A decisão da Justiça que condenou a 17 anos de prisão o líder de um golpe imobiliário responsável por arruinar a vida de cerca de nove mil pessoas reacende um debate profundo sobre o que realmente significa justiça na concepção do coletivo.
Porque, quando olhamos para esse caso, não estamos falando apenas de números nem de prejuízo financeiro: estamos falando de histórias interrompidas, de sonhos arrancados pela raiz, de famílias que perderam tudo, inclusive a paz, a segurança emocional e, em alguns casos, até a própria vida.
E, diante disso, o que representa uma sentença de 17 anos? É reparação? É consolo? É exemplo? Ou é apenas um ponto final formal em um capítulo que continuará aberto para as vítimas por toda a vida?
A sociedade costuma acreditar que justiça é sinônimo de punição, mas será que isso basta quando a dor é irrecuperável? A justiça pode punir o culpado, mas não devolve a tranquilidade noturna, não reorganiza projetos destruídos, não apaga traumas que permanecem como cicatrizes expostas. No entanto, é preciso reconhecer: para muitos, ver o responsável atrás das grades já é, pelo menos, uma afirmação simbólica de que o sofrimento não foi ignorado.
Ao mesmo tempo, paira a sensação incômoda de descompasso. Porque 17 anos, ainda que pareça muito no papel, talvez não se equipare à eternidade da dor deixada para trás. Quem perdeu bens pode até recomeçar, ainda que com dificuldade; quem perdeu a vida jamais será alcançado por qualquer decisão judicial.
Assim, o questionamento se impõe: a justiça entregue corresponde à justiça desejada? A resposta talvez seja amarga. A pena não estanca a ferida, mas reafirma algo essencial para o coletivo: a ideia de que o crime não pode prevalecer sobre a dignidade humana. Mesmo insuficiente, é um gesto de ordem moral em meio ao caos causado.
E talvez, no fim das contas, seja esse o papel mais profundo da justiça: não apagar o mal já feito, porque isso é impossível, mas impedir que o mal fique impune. A dor das vítimas é permanente; que pelo menos a impunidade não seja.
