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Dia da consciência negra

EDITORIAL - Abertura do Programa João Paulo Messer 20/11/2025

20 Novembro 2025 | Quinta-feira 07h34

O feriado do Dia da Consciência Negra chega todos os anos como um lembrete necessário ? e, ao mesmo tempo, doloroso ? de que ainda precisamos chamar a atenção para algo que já deveria estar plenamente incorporado à formação cultural e educacional do país. Lamenta-se que, em pleno século XXI, ainda seja preciso parar o país para dizer o óbvio: a história do Brasil não pode ser compreendida sem reconhecer a contribuição, a luta e a resistência da população negra.

Esse feriado não é apenas uma data no calendário; é uma chamada à memória coletiva. Ele resgata uma parte essencial da nossa história que foi retirada, omitida ou tratada de forma seletiva nos livros, nas escolas e nos discursos oficiais. Por muito tempo, o Brasil preferiu cultivar uma narrativa confortável, que escondia cicatrizes profundas deixadas pela escravidão e pelo racismo estrutural. E essa omissão teve consequências: gerações cresceram sem enxergar a própria realidade social com a clareza necessária.

O Dia da Consciência Negra, portanto, funciona como uma correção histórica. Ele devolve protagonismo a personagens que foram silenciados, como Zumbi dos Palmares, e lembra que liberdade, igualdade e cidadania nunca foram conquistas simples ou espontâneas. Foram fruto de resistência contínua.

Ainda assim, é lamentável que precisemos de um feriado para reforçar o que deveria estar solidificado nos bancos escolares. A educação brasileira, por décadas, falhou em apresentar a verdadeira dimensão da influência africana em nosso idioma, culinária, religiosidade, arte e identidade. Falhou também em mostrar as injustiças que moldaram nossa sociedade.

Enquanto não naturalizarmos esse debate dentro da sala de aula, enquanto não compreendermos que a história do povo negro é parte indissociável da história nacional, o feriado continuará funcionando como alerta ? um alerta necessário, mas que revela nossas lacunas.

Que o Dia da Consciência Negra seja, além de um dia de descanso, um dia de reflexão profunda. Um dia para reconhecer que o Brasil só será pleno quando encarar sem medo todas as páginas do seu passado e quando, enfim, a igualdade deixar de ser apenas discurso e se tornar realidade vivida

João Paulo Messer
Jornalista