As lembranças de um Milton Carvalho que só tem quem o conhece

No ano de 2015, quis o destino que eu conhecesse melhor Milton Campos Carvalho. Até então, ele era aquele cara elegante, sempre bem vestido, barulhento onde chegava, notado por todos, conhecido por todos e alvo dos mais diversos comentários. Era o Milton que fora presidente do Criciúma Esporte Clube em momentos importantes. Era o irmão dos Carvalho, entre eles o Murilo e o Renato.
Foi o Milton quem me ligou apenas duas horas após eu ser demitido da Rádio Eldorado. Transmitiu a estranheza pelo fato, mas não quis saber mais nada, senão me consultar se eu tinha interesse em trabalhar na Rádio MonteCarlo. Sim, e foi rápido: me convidou para um café naquele mesmo dia, duas ou três horas depois. Cheguei ao local combinado e lá estava o Milton com Gil Losso, dono da Rádio MonteCarlo e de outras 11 emissoras. Milton era o gerente. O convite para que eu trabalhasse na emissora foi feito ali e os acertos também. Fui empregado no mesmo dia em que fui demitido.
Passei a fazer dupla com o Milton nas visitas aos clientes. Todo dia havia visitas. Nas terças, quartas e quintas-feiras, ao final do expediente, a reunião era na Cacharia, que funcionava próximo ao Estádio Heriberto Hülse. Ele tomava meia taça de vinho e eu, um chope. Por vezes, um petisco, pois ali havia uma opção de seis pasteizinhos muito gostosos. Eu comia três e o Milton também. Cada um pagava a sua conta. Milton não aceitava que um dia um pagasse e no outro o outro. Tinha que cada um pagar o seu.
A meia taça de vinho e o chope, ali, duravam às vezes duas horas. No guardanapo se traçavam os planos para os próximos dias. Intimidades eram trocadas. Vez ou outra, um ou outro ligava para a sua Vera, minha esposa e a dele têm o mesmo nome, para avisar que haveria mais algum vinho ou chope, mas em outro local e cada um com a sua agenda.
Foi ali que eu conheci um cara sensacional. Amigo leal, conselheiro, conhecedor de muitas histórias e, principalmente, direto e honesto no que dizia e fazia. Aprendi com ele o que pensar, o que dizer e como conduzir as coisas para com aqueles que não gostam da gente ou até mesmo que tenham fortes razões para não gostar. Afinal, nem eu nem ele somos pessoas que não despertem, em alguém, alguma razão para não gostar da gente.
Milton deixa um legado sobre o qual os criciumenses podem falar. Eu, porém, prefiro olhar para o amigo que perdi: o cara das camisas bordadas com as iniciais MCC, de Milton Campos Carvalho. E assim, digam o que disserem sobre o Milton, eu digo que só não gostava dele quem não o conhecia.
