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Cortina de fumaça

Editorial do programa Joao Paulo Messer 05/09/2025

05 Setembro 2025 | Sexta-feira 08h47
O julgamento de Jair Bolsonaro e de outros acusados pelos atos de 8 de janeiro continua em pauta, ocupando o noticiário e mobilizando as atenções de todo o país. Até agora, o Supremo Tribunal Federal tem dado sinais claros de que tratará com rigor a responsabilização de lideranças políticas e de financiadores envolvidos na tentativa de ataque às instituições. A cada sessão, o Brasil acompanha depoimentos, votos, embates entre ministros e análises que vão muito além do campo jurídico, invadindo o terreno da disputa política.
 
No entanto, o mais preocupante é perceber como nos transformamos em uma sociedade que vive de episódios isolados, sempre refém de um fato midiático que domina a agenda nacional por semanas. Enquanto isso, os temas realmente estruturais, como crescimento econômico, reformas, produtividade e geração de emprego, ficam relegados a segundo plano. O Brasil continua sendo um país com sérios problemas de desigualdade, baixa competitividade e fragilidade fiscal, mas nada disso ganha o mesmo destaque que uma votação no STF ou uma fala polêmica de algum político.
 
A raiz dessa inversão de prioridades está na polarização que tomou conta do país. A militância, muitas vezes feita pelo cidadão comum, age como combustível dessa engrenagem. Sem perceber, o povo vira massa de manobra, servindo como ?boi de piranha? para um governo que se aproveita das polêmicas e do barulho para encobrir a falta de resultados concretos.
 
Em vez de sermos cobrados por eficiência, planejamento e capacidade de gestão, aceitamos viver de narrativas. Cada lado da disputa política cria sua própria versão dos fatos e mobiliza seus seguidores em torno de bandeiras ideológicas, enquanto problemas reais seguem sem solução. O governo, qualquer que seja, se beneficia dessa cortina de fumaça, pois, quanto mais o debate se prende ao julgamento de figuras políticas, menos se discute a inflação, a carga tributária, os gargalos logísticos ou a necessidade de atrair investimentos.
 
É claro que os atos de 8 de janeiro precisam ser investigados e punidos, mas não podemos reduzir a vida nacional a esse episódio. O Brasil precisa voltar a falar de futuro, e não apenas de polêmica. O cidadão, ao escolher abraçar narrativas, esquece que seu papel deveria ser o de cobrar eficiência. Enquanto isso não mudar, continuaremos reféns de fatos isolados, vivendo mais de manchetes do que de projetos de desenvolvimento.