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A historinha do Sr Brasil

Texto de abertura do Programa João Paulo Messer nesta quarta-feira, 6 de agosto

06 Agosto 2025 | Quarta-feira 07h33
Imaginemos uma cena.
Que pode ou não ser mera coincidência com os fatos.
Numa mesa iluminada por holofotes e cercada de olhares calculistas, senta-se um homem franzino, mal vestido, mas com o peito estufado como se carregasse milhões no bolso.
Pra ficar melhor aqui vamos fazer de conta que ele se chama: Seu Brasil.
 
E o seu Brasil, que é uma figura conhecida e que já foi visto como um cidadão de futuro promissor, mas que se entregou aos vícios da vida.
Caiu nos maus caminhos.
Mais foi pego com a mão na massa.
Caiu até na cadeia, mas saiu
 
Sentou na mesa do jogo, mas na verdade, não tem nem o suficiente para pagar o aluguel atrasado. Endividado até o pescoço, desempregado, com a geladeira vazia e a família exausta de tanto esperar um rumo, ele ousa se sentar à mesa dos gigantes. É um pobretão jogando com magnatas, empresários e herdeiros de impérios. Mas ali está, com ares de grande apostador, ostentando um relógio emprestado e uma falsa confiança que escorre pelos dedos.
 
Seu Brasil nem conhece as regras do pôquer. Seu repertório limita-se ao velho truco jogado nos botecos de esquina. Mas a vaidade é traiçoeira: quer ser visto como alguém de respeito, de poder, como quem decide os rumos da partida. Por orgulho, por vício, por teimosia, ignora os avisos da esposa, o choro do filho, o bom senso. Põe na mesa a escritura da casa herdada dos pais, as últimas economias da sogra, os sonhos da filha que ainda nem começou a escola.
 
Enquanto os demais jogam com cartas marcadas e sorrisos frios, ele aposta o que não tem, sem perceber que não passa de um inocente útil, uma peça descartável no jogo alheio. É manipulado com facilidade, aplaudido pelos rivais apenas para que continue blefando até o último centavo. Ninguém ali se importa com sua queda ? ao contrário, aguardam por ela com elegância cínica.
 
E quando perde ? e ele vai perder ? não restarão nem as fichas. Só a vergonha, o vazio, e o silêncio daqueles que um dia acreditaram nele. Resta agora um apelo: que este jogador olhe no espelho e veja quem realmente é. Que recue, que peça desculpas, que assuma seus erros. Porque a dignidade, embora machucada, ainda pode ser resgatada. Vaidade passa. Mas a vergonha de se trair? essa pode durar a vida inteira.
Deus, tende piedade do seu Brasil.
João Paulo Messer
Jornalista